Portfólio de Leitura – Livro A hora da estrela, de Clarice Lispector

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No entanto, assim como explica a professora e pesquisadora Angela Kleiman, para a grande maioria dos alunos, a leitura em sala de aula é “difícil demais, justamente porque ela não faz sentido”.Dessa forma, a ideia de elaborar um pouco mais essa leitura transformou um trabalho aparentemente simples em um projeto de integração entre obra, alunos-leitores e professora. Foram dois meses de profundo contato com Macabéa, Rodrigo S.M., Glória e Olímpico, os principais personagens do livro. E esse caminho não poderia ter outro ponto de partida: a biblioteca da escola. Não somente porque é lá onde se encontram as obras de Clarice, mas também porque a biblioteca recebe o nome da escritora. Dali, os alunos das turmas de Primeiro Ano de Pesca e de Aquicultura (divididos em quatro turmas matutinas e vespertinas) puderam começar a entender a importância dessa leitura.

Desde então, a leitura se fez em paralelo com outras atividades, como é o caso da interpretação de músicas, da última entrevista de Clarice Lispector e do filme de Suzana Amaral. Durante dois meses, tornou-se comum que os alunos compartilhassem nas redes sociais frases da autora e se sensibilizassem com Macabéa. Mais comum ainda era encontrá-los com a professora debaixo de uma sombra no campus, em horário de aula, lendo e discutindo assuntos desencadeados da própria apreensão da leitura, como a opressão social, a alienação, a subjetividade, a ato de escrever, os direitos da mulher, etc. Assim, ler A hora da estrela era estar na sala de aula, fora dela, em casa, no coletivo ou individualmente. Por isso, muito material de reflexão foi surgindo, o que permitiu uma avaliação complexa, mas nem por isso prazerosa, chamada Portfólio de Leitura.

Foi somente ao final da “leitura completa” que os alunos, em grupos, efetuaram a última tarefa, que consistia em a) tecer comentários sobre o livro; b) produzir um fichamento de leitura que se deu ao longo do processo acima descrito; c) responder à pergunta: por que ler A hora da estrela?; d) demonstrar de maneira criativa como foi a experiência de leitura individual e do grupo. Nesse sentido, os portfólios entregues impressionaram pelas ideias ali contidas, bem como a dedicação dos alunos para com uma atividade que, antes, poderia parecer monótona e tediosa. As respostas à pergunta “Por que ler A hora da estrela?” foram igualmente interessantes, uma vez que nos deparamos com impressões como: “é um livro difícil de ler, mas depois que entendemos, temos pena de Macabéa e percebemos que existem muitas Macabéas pelo mundo”. Ou seja, agora a leitura faz sentido.

O reconhecimento da qualidade dos trabalhos estendeu-se também para a biblioteca, local fundamental para intercâmbio de ideias em qualquer área do saber. A bibliotecária Ana Muller e a auxiliar de biblioteca Eliana Bedim Teodoro acompanharam todo o processo de leitura dos alunos, percebendo, inclusive, que os livros de Clarice começaram a ser mais procurados. Ana e Eliana propuseram uma exposição dos trabalhos neste começo de ano para que todos os alunos e servidores do IFES campus Piúma percebam a importância de estar em contato com os livros e tudo o que envolve a leitura.

Quem foi Clarice Lispector?

Nasceu na Ucrânia (1920) e naturalizou-se brasileira. Escreveu romances, contos, ensaios e, para os jornais, escrevia muitas crônicas. Sua obra está repleta de cenas cotidianas simples e tramas psicológicas, sendo considerada uma de suas principais características a epifania de personagens comuns em momentos do cotidiano. Faleceu em 1977, no Rio de Janeiro.

Profª Sarah Vervloet Soares - Língua Portuguesa - Mestre em Estudos Literários.